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República Portuguesa - Conteúdo da Web sobre The Boys
os super-heróis que tanto veneramos são, na verdade, o pior que a Humanidade tem para oferecer, um grupo de criminosos depravados que fazem atos horríveis e são protegidos pela fama.
Para combater contra esta injustiça, um grupo de pessoas sem poderes, os tais 'The Boys', unem-se para os matar a todos.
A premissa pode parecer até demasiado simplista e, a verdade, é porque o é.
Garth Ennis disse várias vezes que criou a banda desenhada por odiar o género de super-heróis e pretender fazer uma paródia ácida.
Apesar de muito violenta e obscena, ou talvez precisamente por isso, a obra ganhou uma popularidade de culto e captou a atenção de Hollywood.
Em 2008, chegou mesmo a dar-se os primeiros passos para desenvolver uma longa-metragem baseada na banda desenhada.
Na altura, o realizador Adam McKay era o escolhido para liderar o projeto.
No entanto, diferenças criativas fizeram cair por terra a produção.
Entretanto, precisamente em 2008, estreava o primeiro 'Homem de Ferro' e arrancava o Universo Cinematográfico da Marvel.
A indústria do Cinema virou-se do avesso e o género de super-heróis tomou conta da cultura pop.
De repente, tudo o que podia gerar novo conteúdo de collants com superforça e capas voadoras foi vasculhado para ser reformulado em série ou filme.
Por mais que as personagens fossem desconhecidas, se usavam uma máscara ou tinham superpoderes podiam muito bem ser rentabilizadas pelas grandes produtoras audiovisuais.
E, assim, de forma natural, o interesse por 'The Boys' renasceu.
Em 2016, arrancaram os planos para se tentar adaptar a banda desenhada de novo.
Desta vez, em formato série, liderada por Eric Kripke e apoiada e distribuída pela Amazon Prime.
A fórmula química do sucesso de 'The Boys' passa por ser fiel a certos pontos da banda desenhada original e a alterar substancialmente outras componentes.
A série reteve a violência caricatural e humorística da obra original e até a expandiu de forma muito ambiciosa em termos de efeitos especiais.
Não há uma temporada que não cubra os atores em litros e litros de sangue falso e misture cenários práticos e a computador.
As personagens são encarnadas por um elenco superlativo e carismático, em que o destaque claro vai para Karl Urban como o anti-herói trágico Billy Butcher, e Antony Starr no papel do antagonista principal Homelander.
É este último que tem feito das melhores atuações em toda a televisão, nos últimos anos, já que este super-herói é um vilão perturbado, impiedoso, incorrigível, mas interpretado de forma minuciosa e sempre surpreendente.
Erin Moriarty, Jack Quaid, Chace Crawford e Karen Fukuhara são outros dos destaques do elenco.
Não obstante, Eric Kripke soube perceber que a premissa de 'The Boys' permite ir mais longe do que a mera paródia superficial a personagens de banda desenhada.
Em vez de ficar por aí, a série utiliza os super-heróis como um retrato dos Estados Unidos atuais, simbolizando o culto de personalidade, os bastidores do mundo do entretenimento e a divisão política do país.
Também terá sido uma coincidência benéfica que a série tenha estreado a meio de 2019, poucos meses depois de 'Vingadores: Endgame' ter estreado nas salas de Cinema e marcado o auge dos filmes da Marvel, antes de ter se instalado, nos últimos anos, uma fadiga das audiências perante filmes de super-heróis tradicionais.
A verdade é que 'The Boys' encabeça um movimento paralelo a este fenómeno cultural, que se dedica a desconstruir e gozar com super-heróis.
Outras séries, como 'Invincible', revertem os clichés que associamos a figuras como Super-Homem, Batman, Homem-Aranha, entre outros.
E, no caso de 'The Boys', a sátira vai mais longe.
Homelander, um homem loiro que passa uma imagem de força e usa a bandeira dos EUA como capa é uma metáfora evidente para Donald Trump e, ao longo das temporadas, tem ganho seguidores fanáticos que o apoiam.
A última cena da terceira temporada termina com Homelander a matar uma pessoa em público, pela primeira vez, e, depois de pensar que iria ser odiado, os seus apoiantes acabam por o celebrar - uma clara referência a uma declaração em que Donald Trump dizia que podia dar um tiro na rua a alguém e nada lhe acontecer.
A narrativa da quarta temporada arranca com uma campanha eleitoral para as Presidenciais dos EUA, o que promete ser chão fértil para muito humor e crítica à volta do ato que, em novembro, vai mesmo colocar o país num momento de alta tensão política e sociocultural.
'The Boys' é, assim, uma das grandes estreias de junho que dominará as atenções durante as primeiras semanas do verão.
Os fãs podem ter muitas teorias, mas nada é realmente certo para lá de sangue, muito sangue e mais sangue.
Resta saber se Eric Kripke saberá direcionar a propriedade mais bem-sucedida da Amazon Prime para um desfecho satisfatório que, certamente, será sempre explosivo.